sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Uma nobre arte...



Tenho recorrentemente um sonho, pesadelo será talvez o termo mais apropriado para aplicar à situação em causa. Passo a explicar: Estou eu em alegre conversa com a mulher dos meus sonhos, e isto não quer necessariamente dizer que se trate de um estereótipo qualquer que me sirva de bitola para apreciação crítica de qualquer especimen feminino que se atravesse no meu caminho, não, eu sonho com uma mulher, logo ela está no meu sonho, logo é a mulher dos meus sonhos, clarificado isto, de forma a que fique bem explicito que não sou cá dado a esquisitices, um pouco abichanadas talvez, de ter critérios baseados em devaneios oníricos no que à contemplação do sexo oposto diz respeito, sou aliás apologista de como diz um amigo meu, nesse aspecto só ter um critério que é não ter critério nenhum. Mas avancemos então para a o sonho propriamente dito. Dizia eu que encontrando-me a falar com a mulher dos meus sonhos, todo labioso e tal, a coisa está a correr extraordinariamente bem, ela parece estar receptiva, acha-me imensa piada e extremamente atraente e já está a fazer aquela coisa aos lábios, tipo beicinho, a que eu gosto de chamar "boquinha sexy". Até que me apercebo de algo. Do quê? Convém esclarecer primeiro a forma como eu vejo os meus sonhos. Nunca me aconteceu ter um sonho onde eu visse o surreal mundo onírico pelos meus próprios olhos, sucede, impreterivelmente, ver-me a mim em modo cinematográfico ou seja na terceira pessoa, em filme 8mm e a preto e branco. Mais um pequeno aparte para dizer que a questão do preto e branco tem a ver com gostos pessoais e com o facto de eu achar que um sonho em modo cinematográfico a preto e branco, terá sempre muito mais glamour do que um a cores, daí que quando começo a sonhar e me sai uma coisa a cores faço sempre uma forçazinha para que se active o modo black n'white, assim, mesmo que esteja a sonhar que estou numa casa de banho pública na Suazilândia, dá-me sempre a sensação que de um momento para o outro me entra por ali adentro a Ingrid Bergman e desato a contracenar com ela no Casablanca.

Mas voltando à vaca fria, dizia eu que acontece muitas vezes sonhar que estou a conversar com uma gaja linda e tal e as coisas a correrem muito bem, eu com a sensação de estar quase a facturar, quando a maldita câmara onírica, sobre a qual o único controlo que pareço ter, é mesmo a cor em que ela filma, resolve fazer um grande, enorme plano da minha própria cara. E de repente apercebo-me da catástrofe, da ruína, da tragédia, da nojeira de um imenso, gigantesco e grotesco macaco verde pendurado dos pelos do meu nariz. E digo verde porque o sacana do cameraman, com certeza, adepto incondicional de Spielberg e da sua lista de Schindler, que como bem se lembram foi todo filmado em preto e branco, excepto quando o realizador pretende que o espectador concentre a sua atenção numa pequenina criança e para isso lhe empresta ás vestes a coloração vermelha, também o mafarrico que dirige os meus sonhos querendo dar especial destaque à minha triste figura, tinge de verde o mostruoso macaco que dependurado das minhas pilosidades nasais parece acenar de forma gozona para o espectador, eu próprio, gritando "já fostes! esta já tu não facturas nem em sonhos". E de repente vejo-me transportado para um qualquer beco sujo, urinando contra a parede e com o dedo enfiado no nariz...

Este tipo de sonho que de vez em quando me assombra, tem como consequência algo que se acabou por transformar num tique nervoso como é o facto de estar sempre a coçar o nariz. Acho que isto sucede por manifesto reconhecimento da minha própria incompetência para, através de um qualquer mimetismo, aprender a dominar a nobre arte de manter sempre limpas as cavidades nasais e sobretudo a sua zona externa. Já me apercebi, empiricamente, que cortar os pelos do nariz resulta em parte, só que os sacanas voltam sempre a crescer e cada vez com mais força, chegando por vezes ao ponto que, por desleixo, o meu nariz pareça possuído por um qualquer aristocrata queirosiano do século XIX, dada as semelhanças com uma farta e repenicada bigodaça.

Será só a mim que este medo me assombra? Que terei de fazer para ser iniciado nessa nobre arte oculta da pirâmide nasal sempre resplandescente? Dadas as minhas origens humildes duvido que algum dia me seja proporcionado o tão almejado acesso a esses segredos ancestrais, mas entretanto sempre vou aprendendo alguma coisa através da observação. O exemplar que fotografei, e que ilustra este post, numa noite qualquer na casa de banho de um famoso estabelecimento de diversão noturna da cidade de Moura, que fica ali para a travessa das cruzes, dá-me algumas indicações preciosas. Um dos grandes mistérios que me assombrava ficou assim um pouco mais clarificado. Numa atmosfera fortemente poluída com fumo de tabaco, partículas em suspensão de perfumes e lacas de qualidade duvidosa, bem como outros gases "pesados" como o metano, como é que uma pessoa com sinusite e rinite alérgica consegue manter umas narinas espectaculares ao longo da noite, de forma a proporcionar a confiança necessária para me abeirar sem medos e entabular uma conversa com alguém do sexo oposto? O segredo, ao contrário do que eu pensava, não está em constantemente coçar o nariz, uma vez que dessa forma nos arriscamos a, em público, desenlearmos o fio de Ariádne, o que é sempre extremamente embaraçoso. O truque é esperarmos pela oportunidade proporcionada por uma ida à casa de banho para mictar e, de forma complementar ou alternada, proceder à meticulosa limpeza das fossas nasais. Esta foto, pequena e no entanto tão esclarecedora, é prova disso. O portador deste belo especimen, soube esperar pacientemente pela altura certa e mesmo confrontado com a inexistência do precioso auxiliar que é o papel higiénico, teve o civismo necessário para o expor numa zona bem visível (no vidro da janela) e simultaneamente bem afastada de possíveis contaminações (leia-se aqui contaminação como o contacto directo com a pele de algum infeliz mais desatento). Obrigado caro anónimo por nos elucidares, a mim e a outros simples mortais, desta forma. Espero que este breve texto não te denuncie perante os teus confrades portadores do segredo das narinas imaculadas e venhas a sofrer por isso qualquer tipo de retaliação.

Salvé companheiro!

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Divulgação Prioritária: A nervous tic motion of the head (to the left).

Estou completamente viciado neste tema do Sr. Andrew Bird. Traduzido para português o título da música quer dizer "Um trejeito/tique nervoso da cabeça para a esquerda" (ou algo que o valha). Ele toca, assobia, canta e tem sentido de humor no que ás letras diz respeito. Achei que isto era bom demais para não partilhar.

P.S - Desliguem a rádio cotonete, pressionando com o cursor do rato o quadradinho azul, acreditem que vale a pena.

P.S.S - Não faltem hoje à marcha promovida pelo "Em Movimento Pelo Sim". O ponto de encontro é ás 21:30h na associação das mulheres. Prometo que lá estarei a trautear (baixinho que é para não ferir a menina do ouvido a ninguém) esta musiquinha em homenagem ás mulheres vítimas do aborto clandestino e de perseguições judiciais. Domingo eu voto sim, o gervásio também, e vocês? De quanto tempo mais precisam para se aperceberem que a interrupção voluntária da gravidez clandestina e sem condições é uma realidade a que se tem que pôr fim? Basta de mortes de mulheres, basta de hipocrisia. Votem SIM no dia 11 de Fevereiro.