A minha Festa...

Ao contrário da generalidade dos mourenses, a festa anual em honra de N. Sra. do Carmo, é para mim um supremo martírio que começa na Quinta, tem o seu auge no Sábado à noite e o desejado final na Segunda.
Para além da malária (que não sei se já disse, me tolda o raciocínio) trouxe também, outras “recordações” da guerra em África. Não me refiro aqui ás fotografias que enviava durante o período natalício para a metrópole, com as indígenas em tronco nu e o desejo de boas festas e um próspero ano Novo inscritos, respectivamente, no seio direito e esquerdo, na vertical e em letra maiúscula. Não. Isso todos os ex-combatentes trouxeram. Excepto talvez o cabo Martins que preferia mandar os mesmos votos, inscritos numa determinada parte do corpo de um autóctone, despido da cintura para baixo… Mas já estou a embarcar em fait-divers que não interessam ao assunto e que para além do mais são muito pouco másculos.
Dizia eu que a festa é para mim uma agonia, e isso deve-se ao stress traumático que adquiri no ultramar e ao fogo de artifício, que o despoleta. Já tentei de tudo, desde tampões para os ouvidos, até fechar-me no carro com a música no máximo a ouvir os Morbid Death. Mas apenas consegui, no primeiro caso, acordar na manhã seguinte com o cerume a escorrer-me pela orelha abaixo devido a uma alergia, e no segundo, descobrir que sofria danos irreversíveis a nível do ouvido interno, para além de uma indominável vontade de dedicar o resto dos meus dias a sacrificar virgens inocentes em honra de Satanás. Neste último caso e após muitos anos de terapia, consegui retirar o “Satanás” da frase anterior e transformar “sacrificar” num eufemismo…
Possa, já me perdi outra vez com devaneio de cariz, mais ou menos, sexual. Mas serviu para reabilitar a minha masculinidade depois da infeliz piada sobre o “instrumento” do Muhetombo, também conhecido como o Manilha de 20".
Continuando e tentando não os maçar demais com colateralidades, vulgares banalidades, quiçá trivialidades inúteis, passe a redundância, avanço já directamente para o busílis da questão, se é que isto ainda vos interessa e não desistiram ainda de me ler com uma irritação enorme. Juro que tentarei abolir da minha escrita daqui para a frente, todo e qualquer estilo que vos faça recordar o Sr. Vereador Cordovil.
No Sábado da festa o terror instala-se e tenho por norma, depois das infelizes experiências que partilhei convosco, abandonar o concelho e ir para o mais longe possível. Mas este ano, malas feitas e depósito de combustível atestado, quarto reservado em Cabeceira de Basto, aparece-me um antigo colega da escola industrial, que eu não via desde a minha mocidade, quando tirava o curso de torneiro mecânico. Conversa puxa conversa e resolvemos ir beber um copo. Resultado, quando olho para o relógio são já 23:55 e eu completamente enfrascado. Com os passos embargados pelo álcool, tento dirigir-me do “Colmeia” (passe a publicidade) para a minha viatura, que se encontrava estacionada junto ao edifício dos quartéis. Ainda pensei que, com os habituais atrasos no início do famigerado espectáculo piro-musical, me safava desta, mas quando disse ali atrás que tinha os “passos embargados”, isso foi sinónimo de quase paralítico, pois quando se iniciou o bombardeamento (cerca das 00:30), ainda estava na rua da República, ou seja percorri 150m em 35 minutos. Obikwelu rói-te de inveja!
E assim se armou a tourada. Com os primeiros rebentamentos fiquei fora de mim, entrincheirei-me junto ao marco dos correios, aos gritos de que “Vinham aí os turras”, que o “posto de comando ia ser tomado” e para que “DEIXEM JOGAR O MANTORRAS”. Ao mesmo tempo tentava atingir a Dra. Kika, o Beira-Mar e alguns jogadores do MAC, com copos de cerveja vazios, arremessando-os como se fossem mortíferas granadas. Claro que fui prontamente manietado por alguns concidadãos meus conhecidos, que prontamente chamaram o 112. Aqui, desde já, gostaria de lhes deixar publicamente expressos os meus sinceros agradecimentos por me terem arruinado o fim de festa. Logo eu que sou o fã número um do Toy (com banda).
Convencidos agora de que quando disse no início, que não era como os outros mourenses, não faltava à verdade? Mais alguém em Moura é assim como eu? Não pois não? Silvestre Raposo, estou contigo!
PS - Este texto era suposto ter sido publicado na terça feira a seguir à festa. Felizmente para vocês, estive este tempo todo sem acesso à internet.
PS1 - Digo somente "felizmente para vocês", e não "felizmente para vocês que fazem o esforço de me vir ler", porque é uma redundância muito parva. Porque se lerem "felizmente para vocês" isso é já sinal suficiente que me estão, de facto, a ler.
PS2 - Mau, lá estou eu como o Sr. Vereador Cordovil outra vez...